Os Livros e Eu

Toda a minha vida vi a minha mãe ler, ler muito. Toda a minha vida a minha mãe me disse que "... um livro é o melhor amigo e a melhor companhia que podemos ter...". Ao princípio, quando era mais pequena, não conseguia entender o significado desta frase, mas com o tempo fui percebendo toda a felicidade que podemos ter quando lemos um livro. 

A minha vida de leitora foi e vai tendo diferentes estágios de amadurecimento à medida que vou crescendo e tendo novas experiências no mundo. Há alturas em que sou uma leitora feroz e outras em que nem tanto assim. Há livros que leio de um trago, outros que levam o seu tempo e outros que não podem de todo ser lidos com a idade que tenho na altura. Penso que é preciso ter um certo amadurecimento na vida para ler certos livros. Quer dizer, eu posso sempre lê-los, mas há alturas mais certas para poder sorver deles tudo o que eles me podem dar. 

Sou um tipo de leitora que me dedico sempre a um livro de cada vez, ao contrário da minha mãe, que lê vários livros ao mesmo tempo de diferentes tipos e estilos. 

Desde que fui mamã que a minha dose de leitura diminuiu substancialmente, mas não sei porquê, sempre que fico grávida, há um fenómeno qualquer em mim e volto com uma força e garra a todos os livros que entretanto se acumularam na minha lista e que aguardam que lhes pegue. Mais tarde, quando volto a lembrar-me do tempo que estava grávida, associo a esses tempos memórias dos livros que li nessa altura e lembro-me muito bem de várias personagens, porque me acompanharam naqueles meses tão intensos.

Com os bebés já cá fora nos meus braços, volto a passar por um período de recessão de leitura, mas lentamente tudo volta outra vez ao seu lugar. 

Agora estou outra vez numa daquelas fases de boas e grandes leituras. De facto ler um livro, permite-nos conhecer locais deliciosos e conhecer pessoas inesperadas, sem nunca sair da nossa cama ou sofá. Uns fazem-nos vibrar de alegria e de emoção, outros deixam-nos mais nostálgicos e tristes. Há livros tão intensos, que quando os acabo fico meio desorientada, sem saber bem o que fazer com aquela saudade que se instala dentro de mim, das personagens e dos sítios que me acompanharam durante toda a leitura.

Assim, durante estas férias, e para além de tudo o resto, estes também foram os meus mundos

Gostei muito de todos. O primeiro fala de uma fase da vida particularmente difícil para um ser humano, a 3.ª idade, e de quando ela se instala de tal forma que obriga o ser humano a optar por viver num "Lar"... Está escrito com um grande humor e carinho, mas também de uma forma muito crua, perante toda a realidade que é perder as condições físicas e mentais que sempre tivemos e observar a forma como as pessoas que naquela altura nos assistem vão tratando de nós. Foi bom ler este livro nesta altura, em que a minha avó passa por uma fase semelhante e em que eu posso facilmente perceber a tristeza e o silêncio nos seus olhos de já não poder ser rainha e senhora da sua vontade.

O do Miguel Sousa Tavares é muito envolvente. É daqueles que se lêem muito rapidamente, porque o enredo é de facto bom e gostei da forma como são relatados diversos momentos históricos do nosso país, mesmo nos dias de hoje, e descritas formas de actuar tão características da sociedade portuguesa. No final, apetecia-me que aparecesse um suplemento surpresa para poder saber mais e mais do Filipe e da Eva.

Ontem terminei o último, o "Deserto dos Tártaros". É um bom livro, mas não para todos, porque a sua escrita é dura e porque é essencialmente um livro reflexivo e de pouca acção (mas não tão pouca como o do "Mau Tempo no Canal"!). Gostei de acompanhar o Tenente Giovanni Drogo na sua missão no Forte Bastiani, na sua espera, nas suas reflexões das encruzilhadas da vida e no papel das nossas decisões e da própria sorte nessas encruzilhadas.

Neste momento, ainda não me decidi pelo próximo, mas bons exemplares não me vão faltar, porque desta vez para evitar vazios na nossa estante, trouxemos uma mala exclusivamente carregada de novas boas leituras para pequenos e graúdos.