Afinal de contas, até estou de t-shirt e o sol brilha lá fora...

Eu acho que sou uma pessoa bastante racional, mas sem dúvida, que se fizer bem o balanço, o meu lado emocional acaba sempre por ganhar o racional. Emociono-me facilmente, decido coisas da minha vida só pelo instinto e só porque acho que sim, quando estou em dia não "salta-me a tampa" facilmente e com quem mais gosto, adoro rir, mas também choro por qualquer coisa. Todos estes sentimentos, por vezes, sobrepõem-se a tudo o que eu penso e tento planear atempadamente, virando todos esses planos do avesso.
Quando decidimos partir nesta aventura o que decidiu mais dentro de mim foi o emocional. Não sei, mas tinha dentro de mim que a resposta certa era partir. Eu racionalizei, aliás, racionalizámos muito bem esta partida, grelhas e tabelas de "prós e contras", bem ao meu estilo, mas no final e apesar de me conhecer e saber que para mim ia ser muito difícil, continuava a persistir essa sensação de "ter que partir". E partimos...
Agora, já aqui, há dias em que o meu lado emocional se revela mais lunar do que eu quero e não consigo evitar o nó na garganta e a lágrima que teima em cair, porque há tanta coisa que me faz falta. Depois tento deitar para trás das costas e pensar só nas coisas boas e distrair-me e rir-me com os meus amores pequenos e grande, porque de facto eles são o verdadeiro sumo da minha vida, mas há dias assim, que não dá para esquecer...
A felicidade na cara do Avô Carlos e Bivó Alice quando passavam umas horas do seu dia com os seus pequenos e essas horas chegavam para se aguentarem felizes o resto da semana, a alegria e toda a agitação de um almoço em família em casa da Avó Célia, o conforto, aconchego, mimos e o sentir que realmente o meu coração está cheio quando estamos em casa da Avó Gilda, um dia de praia e de conversa com os amigos, um dia de trabalho na CML, o poder estar ao pé da minha Avó Emília e acalmar um pouco a sua dor.. 
Não gosto de dar por mim a sentir que certas pessoas se me estão a escapar por entre os dedos e tenho medo de já nem as conhecer, ou de não saber falar com elas quando as voltar a reencontrar. 
Quero poder voltar a sentir aquela segurança de que ao virar da esquina, ou a poucos minutos, está alguém que realmente se importa connosco e que pode vir a correr se o chamarmos, porque não estamos a milhares de quilómetros de distância... 
Quero só ouvir falar português à minha volta, ligar a televisão e o rádio e não existir tantos "lost in translation", entrar numa FNAC e poder apreciar livremente todos os livros da minha língua e comprar um livro em português ao vivo e a cores, sem ter que percorrer não sei quantos sites para esse fim, quero comprar a TimeOut em papel...
Começar a vida noutro país, faz com que tenhamos que voltar a mostrar a todo a este novo mundo, quem somos, a provar o que valemos, a fazer conversa com este e com aquele para podermos "dar um dedo de conversa" e não estarmos só fechados no nosso casulo, porque não é bom, a descobrir tudo outra vez, outros alimentos, outras comidas, outros médicos, outros cabeleireiros, outros tudo! 
E depois se comento com alguém este sentir, já não há pachorra para ouvir: "Isso é uma grande oportunidade! Este País está o caos!" e só dá vontade de lhes responder: "Pois é, então 'bora! Anda daí tu também!" 
Às vezes só me apetece mandar tudo e todos às couves! Pronto! Acho que é legítimo este sentir e também não tem mal em pô-lo cá para fora, porque se ficar cá dentro é pior... 
Depois, como chegam estes dias, também partem... É mais ou menos como me dizia a minha mãe quando eu amuava: "Deixa estar, isso incha, desincha e passa". 
Volto a pensar em como sou tão abençoada de felicidade e volto a sorrir, porque afinal de contas até estou de t-shirt, não chove há duas semanas e o sol brilha lá fora.

2 comentários:

Raquel disse...

Não deve ser fácil não... mas estás quase de volta ao aconchego, a sentires tudo isso que descreves... a sentires-te completa novamente... está quase, quase! :)

Beijo

Anónimo disse...

Beijo grande, Rita... ass. Sofia Santos