Lagos


Por aqui existem um sem números de lagos.
Lagos artificiais, com repuxos, patos, peixes, muita relva à volta, grandes casas e poucas pessoas a circularem pelo exterior. Cenários muito cinematográficos. Mesmo. 
Digo cinematográficos não propriamente devido à sua beleza, mas por serem cenários compostos de elementos enormes, parecendo não faltar nenhum pormenor para rasar a quase perfeição para alguns mas completamente vazios, sem actores ou figurantes. Cenários aparentemente abandonados.

A zona onde vivemos, "uptown" Houston, é considerada como o segundo centro de negócios da cidade e por ser uma zona com mais serviços e comércio, estes cenários não estão assim tão abandonados, existindo mais circulação de pessoas, sendo no entanto esta circulação em nada comparável com qualquer terrinha, por menor que seja, na Europa. 

Bem, isto tudo para chegar a um pormenor banal mas que eu acho de certa forma interessante: a intensa utilização do lago que existe nas traseiras da nossa casa.

Este lago, não está de todo abandonado. Está vivo e bem vivo.

Diariamente da minha varanda posso assistir a:
  • Mais de uma vez por dia,  pessoas a estacionarem o carro a tirarem sacas de ração inteiras e a despejarem-nas para os patos. O estardalhaço entre os patos é geral e quase que se matam uns aos outros para atingirem o pedaço de ração que eles julgam terem direito. Pergunto-me que tipo de pessoas se já ao trabalho de comprar um saca de ração e vir aqui despejar. E não se ponham a pensar que é o tratador dos patos, não, estas pessoas vêm vestidos à executivos, com gravatas, fatos completos, saltos altos e afins.
  • Mexicanas e por vezes indianas em trajes de noiva (?), com vestidos cheios de cor, com um rol de damas de honor atrás a fazerem sessões fotográficas verdadeiramente idílicas.
  • "Modelos" masculinos e femininos em poses roliças e sensuais para captarem quiçá a melhor foto para o facebook
  • Pessoas a fazerem pequenos picnics à hora de almoço .
  • Um sem fim de pescadores à linha. Sim um sem fim. Chegam e ficam tipo uma hora e tudo o que pescam devolvem ao lago. 
Hoje enquanto almoçava com a Maria vi um carro estacionar, um senhor saiu lá de dentro, tirou as calças e ficou com uns calções. Tirou os sapatos e colocou umas galochas. Enfiou um boné e pegou na sua cana de pesca. Andou e andou à volta do lago mas nunca pescou nada.
Estive vai não vai para lhe assobiar e gritar da varanda:

"- Hei, Hei!! Olhe que ontem, vi o jardineiro responsável do nosso condomínio, andar à volta do lago e apanhar com uma rede 6 (6!!) peixões mortos!"

Mas depois achei que não valia de nada...Para quê cortar-lhe a felicidade?

Assim andou feliz e contente nas suas galochas, a espreitar aqui acoli, a lançar a linha ora mais à frente, ora mais atrás...
Enquanto arrumava a loiça viu-o desertar, voltar a pôr as calças, calçar os sapatos, arrumar o boné e a sua cana de pesca e seguir viagem. Possivelmente até um escritório, para sentar-se o resto da tarde atrás de uma secretária com um computador à frente. Possivelmente verdadeiramente feliz, por ter ganho uma hora em estado zen a pescar literalmente nada.

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