Já fez um mês que chegámos a Houston.
Um mês é muito tempo, sim, é verdade, mas quando tudo é novo e diferente na rotina habitual das nossas vidas, um mês passa a voar, num piscar de olhos.
Como já cá estamos há um mês, por vezes calha em conversa com alguns amigos, familiares ou conhecidos perguntarem-nos: "Já foram à praia daí?", ou então "Já foram a Dallas?", ou ainda "Já foram à estação espacial da NASA?"
Eu percebo estas perguntas, são legítimas, ah e tal estão num país novo, numa cidade desconhecida, têm que a descobrir, passear, conhecer tudo o que há de novo por aí...
Porém, oiço estas perguntas, sorrio para dentro e limito-me a responder: "Não, ainda não fomos."
Quando se muda de país há um sem número de assuntos a tratar que não se resolvem em dois dias.
Há uma série de questões que têm que ser resolvidas o quanto antes, muitas vezes, não por causa de nós próprios, porque afinal somos crescidos e podemos adaptar-nos com mais facilidade a mudanças mas essencialmente e acima de tudo porque temos três filhos pequenos, que não podem estar sujeitos a certas e determinadas situações só porque os seus pais decidiram mudá-los de país.
Temos que zelar por uma estabilidade familiar, para eles continuarem tranquilos e sentirem que mesmo tendo mudado de país e sendo tudo novo em seu redor, está tudo bem, porque tudo o que eles sempre conheceram, se habituaram e gostam continua no mesmo lugar.
Chegar a um novo país, mesmo tendo o apoio de uma empresa responsável por assegurar o nosso realojamento, não é o mesmo que ir um mês de férias para qualquer lado.
Não é só fazer as malas e voltar a desfazê-las.
Assim que chegamos, precisamos de uma casa pronta e adequada ao nosso núcleo familiar. Esta casa tem um tempo limitado de estadia e por isso em simultâneo com a nossa entrada nesta casa inicia-se o contra-relógio com as agências imobiliárias para encontrar uma nova casa, aquela que será a nossa casa durante os próximos meses (anos?) que se seguirão. Escolher esta casa é uma tarefa que exige tempo e conhecimento da cidade em que vamos viver e, quase sempre, estes são normalmente dois factores com os quais não podemos contar. Para além desses dois factores quase inexistentes, digamos que, maratonas de dias inteiros a ver colecções de casas, com os pequenos atrás de nós em modo tribo de índio, sempre prontos a disparar setas a qualquer um, a lançarem gritos de guerra por todas as razões e mais algumas e sempre prontos para abrirem o infindável farnel que transportamos connosco, são razões mais que suficientes para a nossa tarefa não estar facilitada. No meio disto tudo, tentamos encontrar concentração e ser racionais na nossa escolha mas, muitas vezes, guiamo-nos simplesmente pelo nosso instinto.
Ter um carro disponível também é importante. Este é mais um bem com tempo limitado de uso. A partir do momento em que lhe pegamos, começamos de imediato o contra-relógio para decidir qual será o carro que ficará connosco durante os próximos tempos.
Tentar resolver a burocracia imensa de ter uma conta bancária activa no país a que chegámos, porque afinal de contas não vamos apenas passar aqui um mês, o dinheiro é preciso e gasta-se todos os dias e ainda por que há um sem número de assuntos em que de facto precisamos desta nova conta bancária, especialmente agora que lidamos com uma unidade monetária diferente do euro.
Tentar arranjar um telemóvel e tarifários adequados.
Sermos sucedidos em adquirirmos um contracto de electricidade, gás, água, internet e todos esses serviços indispensáveis numa habitação, sendo em todos os casos exigido um número de segurança social, que por ora, ainda não nos foi atribuído.
Procurar, investigar, inscrever e visitar não sei quantas escolas para ver a que mais se adequa aos nossos filhos.
Planear e adquirir (pela terceira vez nas nosssas vidas) o recheio completo de uma casa. Esta é uma tarefa que leva o seu tempo e fazê-lo com três crianças ainda mais!
É verdade que agora já estamos uns verdadeiros peritos, já sabemos mesmo o essencial, necessário e o que melhor se adequa às necessidades da nossa família e acima tudo temos a sorte de tanto eu como o Carlos sermos de decisão rápida e não engonharmos as coisas. Se um emperra numa coisa o outro desemperra logo a marcha mas, mesmo assim, não é tarefa para se concluir em apenas um dia, ou dois, ou três... Isso e depois todo o processo de montagem e ainda o de carregar todas as coisas da casa provisória para a casa definitiva...
Outra coisa ainda, que pode parecer uma banalidade mas na qual perdemos eternidades nestes primeiros tempos é as idas ao supermercado! Sermos uma família de cinco e comermos todas as refeições em casa faz com que normalmente o nosso abastecimento semanal seja sempre para o avantajado. Se conheço o supermercado, os produtos e as marcas, demoro sensivelmente uma hora nesta tarefa, mas agora, vejo-me perante supermercados gigantescos, com corredores e corredores a perder de vista, com um sem número de produtos novos e com uma infinidade de marcas diferentes, o que por enquanto significa que simples ida semanal ao supermercado demore quase tanto, ou mais tempo, que uma viagem entre Lisboa e Porto de carro.
Já passou um mês desde que cá chegámos e muitos destes assuntos já estão resolvidos mas outros ainda continuam pendentes.
Durante este mês o Carlos não pôde, como é óbvio, parar de trabalhar.
Durante este mês também tivémos que encontrar tempo de lazer para e com os nossos pequenos.
Por tudo isto e por muito mais, durante este mês, conseguimos vestir a camisola de turistas em Houston, mas pouco.
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