Saudades de ti

Acordámos os dois às seis da manhã, porque só assim no silêncio do amanhecer podemos ter a concentração, a liberdade e o descernimento que os nossos filhos e a noite nãos nos permitem ter para resolver a quantidade de assuntos que ainda temos pendentes.
Desta vez, tentamos chegar a um consenço sobre o rumo e o caminho mais certo a seguir em termos da educação escolar dos nossos filhos, depois de termos recebido a notícia que muito provavelmente eles não terão vaga naquela que era então a nossa primeira opção.
As pemissas são muitas e variadas e o tempo que temos para decidir e até mesmo para manter esta conversa são limitados.
Voltamos a definir as linhas orientadoras que ambos partilhamos e queremos para os nossos pequenos, a acertar ponteiros e a tomar uma decisão.
É hora de saíres já a correr para o teu trabalho e entretanto a Maria desperta.
Nesta avalanche de acontecimentos das nossas vidas, encontramo-nos de fugida e mesmo estando tão perto um do outro, morremos de saudades um do outro.
Assim mais ou menos, como o Miguel Esteves Cardoso escreveu.



Os dias contigo
"Os dias contigo são dias inteiros que passam num instante. Tenho saudades de ti quando acordo, antes de perceber que já estás ali ao meu lado. Tenho saudades de ti de manhã enquanto espero que desças do banho. Fico bem a ler enquanto te espero, mas leio melhor quando estás ao pé de mim, quando já não me apetece ler. 
Hoje foi mais um dia contigo e, mais uma vez, dou comigo aqui à noite, separado de ti, para escrever sobre o dia que se passou. E a coisa principal que aconteceu foi ter saudades de ti outra vez. 
Bem sei que sei onde estás e que eu estou aqui a cinco passos de ti. Mas a maior certeza que tenho é que, apesar disso tudo, não estou contigo nem tu estás comigo. É o que me basta para ter saudades de ti. Não preciso de mais: se mais tivesse, morreria. 
É verdade que estive contigo durante uma pequena parte do dia: aquela a que as pessoas tristes e habituadas chamam vida. Mas estava tão apaixonado e tão feliz que nem dei por isso. 
Pensei apenas: "Conseguimos! Conseguimos estar juntos! Nem acredito!" E o tempo nunca é suficiente para me convencer que conseguimos mesmo estarmos juntos e, ao mesmo tempo, estarmos juntos o tempo suficiente para deixarmos de nos preocuparmos (e sofrermos) com isso. 
Continuo a sofrer, todos os dias, às mesmas horas em que não estou contigo, da saudade de quando estive. Os dias contigo são os bocadinhos de manhã, tarde e noite que são avaramente permitidos aos mais felizes. 
E apaixonados. E ingratos."



Sem comentários: