"O medo, é uma cena que a mim não me assiste"

O nosso pequeno tufão tem uma característica na sua personalidade que confesso que me deixa um pouco apreensiva quanto ao que irá ser a sua postura e atitude quando já for um rapazinho, adolescente ou homem feito. À medida que ele se tem vindo a desenvolver e a mostrar mais do que é a sua personalidade e da têmpera de que é feito, se há coisa que nunca lhe vi estampado no rosto, ou nos seus olhos, nas suas atitudes, foi medo. Ele pura e simplesmente ainda desconhece tal sentimento e pergunto-me se este é um sentimento que se vá desenvolvendo com as experiências da vida ou se nasce já um bocadinho connosco, ou se.... Whatever! O que é facto, é que para o nosso António, como dizia o outro o "medo é uma cena que não lhe assiste". Quando chora, normalmente ou é birra, ou é bluff, ou quer mimo. Por medo, nunca.

Esta semana no parque, na brincadeira com a irmã, caiu uma queda enorme e partiu a boca toda. Os lábios todos rebentados, muito sangue e o dente da frente partido. Esta era já a terceira vez que partia um bocado de um dos dentes da frente, mas como desta vez partiu muito mais e o dente ficou bastante irregular e a gengiva bastante afectada, decidimos que era melhor ir ao dentista. Lá fomos com ele para o hospital (valha-nos o espectacular serviço de urgências de cada especialidade, estando incluída a urgência de dentista especializados em crianças!) comigo sempre a pensar que aquilo não ia dar em nada e que vínhamos para casa com um "deixe lá, ele é pequenino e há-de nascer-lhe outro dente". Não que essa fosse a nossa preocupação. Nós queríamos saber o estado da gengiva e se tinha sido quebrada a ligação entre o dente e a gengiva e se esta seria a "crónica da morte anunciada de um dente aos dois anos de idade".


Esperámos a tarde toda no hospital e ao final da tarde apareceu a dentista muito sorridente e simpática. Explicámos-lhe o sucedido incluindo o nosso caramelo que entrou logo no modo francês, todo ele concentração e ouvidos, para perceber o que viria dali e explicou ele mesmo o seu "bobo" (dói-dói em francês).
A dentista começou pelo exame inicial, para uma primeira análise. Era preciso tirar umas radiografias...
Parecia que a ligação do dente com a gengiva não tinha sido afectada e a dentista disse que iria fazer apenas uma reconstituição estética do dente e que depois ele deveria ser vigiado durante algum tempo para ver a evolução da gengiva e do próprio dente.
Durante todo o processo, este puto de dois anos, obedeceu a tudo o que lhe foi solicitado "sem ai, nem ui". Sem um "mamã!" sem se mexer e sempre com um sorriso nos lábios. Abre a boca, fecha a boca, radiografias, massas no dente, aspiradores de saliva, esgaravatadores (ou lá o que é), laseres para secar a massa, brocas para alisar e finalizar a reconstituição... Tudo isto numa atitude desconfiada mas surpreendentemente pacífica e calma. No final festejámos todos o herói que o António tinha sido, incluindo a dentista. Bravo António!
Há profissões que requerem realmente pessoas com um dom específico e não um qualquer que tenha sido apenas um brilhante estudante. 


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