Há dias em que se o sol brilhasse, eu sei que tudo seria mais fácil.
Hoje por aqui está frio, o céu está cinzento e as nuvens aconchegam-se de tal modo umas nas outras que nada me faz acreditar que o tempo vá mudar, que o sol possa aparecer e trazer o seu brilho a este dia tão cinzento.
Eu hoje também estou cinzenta e talvez por isso não consiga ver que, apesar do dia estar cinzento, está simultaneamente tão luminoso.
Hoje tenho o coração apertado, tenho dificuldade em falar sem a voz tremer, emociono-me com qualquer coisa e não consigo livrar-me desta lágrima chata que teima constantemente em cair.
Não, não é nada de grave.
É só esta minha mania lixada de ser uma choramingas e lamechas do caraças e de todas as mudanças pequeninas na minha vida serem coisas tão grandes no meu coração.
Enfim, tudo isto, porque hoje é o último dia do António e da Madalena na sua escola.
Tudo isto porque hoje eles terão de dizer adeus a todos os seus amiguinhos e professoras.
Todas as questões burocráticas da nossa partida para Houston começam a a resolver-se e brevemente a nossa partida chegará.
Por isso e como hoje se iniciam duas semanas de férias, hoje será o seu último dia nesta escola.
Apesar de tudo e mesmo tendo-lhes explicado tudo de uma forma muito positiva, para a minha pequena Madalena estas mudanças não são assim tão fáceis. As minhas explicações super positivas não lhe chegam e bombardeia-me com perguntas difíceis de responder e explicar.
Bolas, para mim, é um verdadeiro exercício de concentração e de força interior, vê-la chorar enquanto pergunta: "Mas porque é que tenho de deixar esta escola? E as minhas amigas, nunca mais as vou ver? E a Madame Muriel, nunca mais a vou ver? Nunca mais voltamos à nossa casa? Nunca mais volto a vê-los na vida? Mas não há um outro engenheiro que possa substituir o Papá?"
A Mamã é aquela que dá todas as forças do mundo, que acalma, que reconforta, que diz que tudo vai ficar bem e por isso num grande esforço emocional, tento concentrar-me nela, reconfortá-la e explicar-lhe tudo mais uma vez da forma mais cor-de-rosa, bonita e brilhante que consigo. Falo-lhe só das coisas boas que vão acontecer e de como isso tudo também irá ser espectacular.
Ela acalma-se. Afinal é uma criança e eles facilmente desligam do que os aflige e partem para outra, já todos contentes. Ainda bem.
Para o António a nossa mudança ainda não é um acontecimento real e por isso leva as coisas com mais calma. Quando calha falarmos no assunto, ele só dá cor de si quando finalmente se concentra para perceber os lamentos e lamurias da irmã e só então lá diz muito determinado:
" Não, eu não quero dizer adeus !"
No mundo do António, Portugal continua a ser quase aqui ao lado, ali mesmo só um bocadinho mais à frente e nós irmos viver para Houston, não quer dizer que ele tenha que mudar de escola, não é verdade?
É isto. Não é nada de grave.
É aquele contínuo exercício do desapego em que continuo a não ser uma aluna exímia. Provavelmente, para os meus pequenos, este exercício daqui a uns anos será "canja" e neste momento também não sei dizer se isso será bom ou mau.
Isso e a questão de que quando somos pais, aprendemos que é muito mais difícil de suportar as dores ou tristezas dos nossos filhos do as que nós próprios sentimos.
É só isto.
E agora vou mais é tratar de arranjar um super programa para fazermos depois da escola que ponha toda a gente super contente, a rir e a cantar!
Rita
ResponderEliminarEspero que tudo vos corea bem
Amanhã é um novo dia
Tudo de bom
Ritinha
ResponderEliminarEstás sempre no meu coração. Aqui, na Bélgica ou em Houston, espero que continues a escrever e a dar-nos o prazer de te sentir próxima de nós.
Felicidades.
Bjs